Confissões de uma introvertida

No meio dessa sociedade barulhenta e escandalosa, ser introvertida pode parecer fora de moda. Sucesso é você ser popular, super alto astral, sociável, ser aquela que fala mais alto, que fala e brinca com todo mundo e que sempre tem o que fazer nos finais de semana. Ficar em casa sexta-feira a noite? Jamais queridos!

Enquanto as prioridades de muitos são atenção, aparência e popularidade, aqueles que muitas vezes preferem a calmaria, a reclusão e a quietude correm o risco de ser tachados de estranhos, calados, antipáticos, anti-sociais e esquisitos. Na verdade, nós, os introvertidos, somos simplesmente reservados. Gosto de pensar que somos pessoas sem exageros, que sabem dosar as coisas, características essas que nos ajudam a manter nossa sanidade em meio a esse mundão caótico de hoje.

Moderação! Ta aí uma palavra que eu gosto. Ela vale pra tudo na vida, não só para bebidas alcoólicas. Eu gosto de sair com meus amigos e família, eu gosto de socializar e interagir, ir para um bar tomar uma gelada ou até uma balada. Porém, com moderação. Quando eu opto por sair, dou prioridade a lugares pequenos, de preferencia onde possa sentar (e comer!) e com grupos de amigos próximos, onde a conversa e interação é mais fácil. O principal é que não é uma necessidade. Ao mesmo tempo que é legal sair em final de semana com a galera, a idéia de passar o final de semana sozinha, fazer algo que eu goste em silêncio, ou simplesmente não fazer nada, sem ter que explicar nada pra ninguém e sem ter que conversar com ninguém, é muito tentadora.

Esse lance de fazer novas amizades, admito, é difícil. Eu não saio por aí entrosando com qualquer um, puxando assunto. Se você me ver conversando com alguém na fila do supermercado, pode ter certeza que não foi a minha pessoa que puxou assunto. Quando eu encontro alguém pela primeira vez, sou daquelas que mais escuta do que fala e mais pergunta do que responde. No final do encontro, eu sei da vida da pessoa porém ela não sabe nada da minha.

Leva tempo. Leva tempo pra eu me sentir confortável com alguém. Quando conheço alguém, nunca é instantâneo. Sabe aquele sentimento de virar melhores amigas no momento que se conhece? Poisé, nunca aconteceu comigo. Não é assim, rápido. Não é da noite pro dia que eu viro melhor amiga de alguém.

Se tivesse que escolher uma palavra para me definir, com certeza reservada seria a escolha. Eu sou, e muito. E cada vez mais aceito isso. Aceito que eu não preciso dividir meus segredos e sentimentos com ninguém. Meus pensamentos são, primeiramente, para mim. Se em algum momento eu sentir que preciso compartilhar, então o faço. Eu literalmente converso comigo mesma, me dou bem comigo mesma e por isso, eu mantenho muita coisa comigo, sem sentir a necessidade de dividir, de soltar pro mundo. É como se eu estivesse compartilhando, com a Juli, eu mesma. Faz sentido?

Não me refiro a tudo, é claro. Eu tenho uma família e amigos maravilhosos com os quais eu compartilho muitas coisas, boas e ruins. Mais quando eu paro para pensar, quando muita gente diz que precisa desabafar e tudo mais, o que é muito importante, eu percebo que comigo, e acredito com muitas outras pessoas por aí, não é bem assim. As vezes eu sinto que é como se eu desabafasse comigo mesma. Eu me imagino falando tudo que eu quero falar, do jeito que eu gostaria de falar. E essa imaginação toda faz com que eu escute, com que eu me escute, me compreenda e me ajude. Escrevendo assim até parece que sou meio doida, mas é verdade.

Eu passo muito tempo sozinha. Muitas vezes eu deixo de sair por preguiça. A maioria pensaria que é preguiça de se arrumar e tals. Na real, é preguiça de conversar mesmo, com você e com os outros do rolê. Eu fico em casa numa boa. Eu vou dormir as 9 da noite na sexta, no sábado, tranquila. Feliz até, por pensar que eu tenho uma longa noite de sono pela frente, ao invés de uma pela metade e atordoada devido ao álcool e cansaço.

Pelos últimos 5 anos eu morei nos Estados Unidos, onde fiz faculdade e recentemente me formei em Comunicação. Nesses 5 anos conheci muita gente e fiz vários amigos por onde morei, eles que foram essenciais para a minha adaptação. Quando eu paro pra pensar e analizar esse período em que morei longe da minha família, o que me ajudou muito também foi o meu lado introvertido. Ir sozinha para um país diferente pode ser desafiador em fazer amigos e se relacionar, ainda mais quando a língua você não domina muito bem. Nesses últimos anos passei muito tempo sozinha, e foi nesse período que eu descobri que isso não era um problema. Esse tempo me ajudou a me auto-conhecer, a me descobrir um pouco e a me entender, de um jeito diferente do que quando eu morava na minha cidade no Brasil.

Independente de ser introvertido ou extrovertido, tímido ou não, auto-conhecimento e um tempinho para si mesmo sempre faz bem. Um detox da vida social de vez em quando faz maravilhas. O mundo tá uma correria. A gente sofre um bombardeamento de informações, novidades e novas tecnologias diariamente. É tanta coisa acontecendo ao nosso redor que para dar conta de acompanhar esse ritmo, muitas vezes a gente esquece de dar uma pausa e simplesmente respirar. Meu desejo é  que cada um descubra um ladinho introvertido e desfrute disso. Desacelerar um pouquinho quando necessário, tirar um tempinho pra nóis mesmos, refletir e achar maneiras de conciliar essa loucura de hoje com um pouquinho de calma e reflexão. E que esses momentos nos ajude a achar maneiras de melhorar as coisas, para que um dia, eventualmente, a gente tenha um pouquinho de paz onde quer que a gente esteja.

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