No caminho do cinema a minha curiosidade só aumentava. Não porque sou fã de super-heróis, nem perto disso. Sim por causa das críticas a produção, muitas das quais a classificam como violenta, depreciativa e capaz de influenciar a audiência de uma forma negativa. Ora, influência negativa tem em todo lugar, de graça.
O filme é triste. O Coringa, interpretado pelo Joaquim Phoenix, trabalha como palhaço, mas não tem nada de engraçado. É desgraça atras de desgraça. Solitário, doente e ignorado pela sociedade, a única aparente opção que lhe resta para seguir a diante é a violência. Não há superação por parte do personagem em momento algum. No final do filme, ele não se torna melhor. Ele não encontra um amor ou uma família. Ele não faz amigos. Ele não consegue emprego. Ele não consegue continuar seus tratamentos de saúde necessários.
Em seu país de origem, os Estados Unidos, muitos criticaram a possível influência em pessoas mentalmente vulneráveis.
“O Coringa talvez faça com que algumas pessoas que se sentem marginalizadas se sintam mais presentes e poderosas, podendo reagir de alguma forma em resposta”, escreveu um critico no The Verge. Um artigo publicado no Time se preocupa com o sentimento de pena e a empatia que somos supostos a sentir pelo personagem enquanto “ na América acontece massacre com arma de fogo ou tentativas de atos de violência por homens como Arthur Fleck toda semana”.
Mesmo adaptado dos quadrinhos, a produção interpreta bem uma realidade sombria que muitos de nós desconhece. O personagem Arthur Fleck é daqueles que só leva pancada da vida e o que ja começa ruim, com o passar do tempo só piora. É ignorado e humilhado o tempo todo. A gente costuma pensar que sempre tem uma saída. Ter uma vida difícil não justifica atitudes erradas e criminosas ao longa da vida. E realmente não justifica. Violência nunca será a solução. Por isso o Coringa não é exemplo, não é querido.
Mas o que o filme também aponta é o desinteresse do estado com as pessoas mais vulneráveis. No filme, Arthur atende as seções com a assistente social para fazer um acompanhamento e conseguir seus medicamentos. Ou seja, por mais que ele seja transtornado de um modo e intensidade que nos faz duvidar desde o começo do filme que poderia melhorar, ainda assim ele estava lá, de certo modo, tentando.
Ele não parou o tratamento por opção, e isso é deixado bem claro quando a assistente social diz que o sistema não liga para pessoas como ele e que ele estava sozinho, já que o programa havia sido cancelado. Em casa, morando com sua mãe debilitada ele não tinha o apoio que precisava. E o único modo que ele encontrou para bater de frente com a sociedade que tanto o humilhou foi a violência e o crime.
O filme é de certo modo depressivo, justamente pelo fato de nada de bom acontecer. Ainda bem que é só um filme, fictício. O que cada um leva depois de assistir o filme, esse ou qualquer outro, é de responsabilidade da pessoa, cada uma interpreta de uma forma. O filme levanta temas sensíveis que devem ser discutidos. E pelo fato de eles serem tão reais, tão presentes, deixam muitos desconfortáveis.